segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Observações e Pensamentos de David Petersen - Um olhar sobre o Brasil e ...

O aluno intercambista, David Petersen deu seu depoimento sobre o que achou de Juiz de Fora, sobre a UFJF, e o curso de História e a matéria História do Brasil República I. Suas observações do tempo que em que passou na universidade, dificuldades e pontos positivos. No final ele deixa um recado em inglês para americanos que queiram vir para o Brasil estudar.





domingo, 9 de fevereiro de 2014

O herói nacional e seus bordados

A revolta da chibata eclodiu no dia 22 de novembro de 1910, representava a insatisfação dos marinheiros contra o uso da chibata e de outras práticas violentas dentro da Marinha brasileira. Segundo José Murilo de Carvalho o cenário de pânico devia-se aos grandes encouraçados, que faziam parte do programa de renovação naval iniciado em 1906. Estes navios eram os melhores do mundo, exibindo um total de 84 canhões, ainda juntaram-se a estes o scout Bahia e o encouraçado Deodoro, juntos representavam um poder de fogo imenso, o que gerou medo imediato na então capital do país. Diante dessa situação os moradores da orla marítima entre a Praça 15 de Novembro e Botafogo fugiram, os pobres para os subúrbios e os ricos para Petrópolis.
Os encouraçados meses antes foram motivos de orgulho nacional, pois o país tinha as mais poderosas belonaves do mundo.  Agora, com as manobras e movimentações feitas pelos navios dentro da baía, instaurou-se um verdadeiro espetáculo, mas aumentou o medo da população. Os comandantes e a população ficavam impressionados com a belíssima correção da evolução do navio, apontavam no comando João Cândido como responsável pelo majestoso evoluir dos encouraçados. João Cândido Felisberto entrou na Marinha em 1895, com 15 anos. De acordo Carvalho era semi-analfabeto, lia mas não escrevia. Durante sua trajetória na Marinha foi promovido a cabo, porém devido a mau comportamento havia sido rebaixado a marinheiro de primeira classe. “Envolvera-se em lutas corporais com colegas e espancara outros. Em 1909, dera uma chibatada em um grumete, que em represália, o esfaqueara nas costas.” (CARVALHO,1995: p.70)
Em uma visita a São João del. Rei, José Murilo de Carvalho ficou impressionado com duas toalhas bordadas conservada no Museu de Arte Regional da cidade, que teriam sido feitas por João Cândido. Diante da surpresa procurou investigar o fato, a tolha fora doada por Antônio Manuel de Souza Guerra, este com 92 anos ainda possuía uma boa memória, o mesmo lhe confirmou a história dos bordados, havia sido praça do 51º Batalhão de Caçadores (BC) de São João del. Rei. Na época da Revolta dos Marinheiros, o batalhão foi chamado para auxiliar no policiamento da capital, devido a insegurança do governo em ralação às tropas sediadas no Rio de janeiro.  O batalhão foi encarregado da guarda dos presos da revolta, encarcerados na Ilha das Cobras, neste episódio Antônio Guerra conheceu João Cândido com quem teria feito amizade e combinado de levar jornais todos os dias, pois o preso se queixava da falta destes.
O que chamou a atenção de Antônio Guerra foi o fato do temido líder da revolta passar o tempo todo bordando, este presenteou o sargento com duas toalhas bordadas, uma com o tema O Adeus do Marujo, e a outra com a inscrição “Amôr”. Estes bordados estão no Museu de Arte regional. Então, José Murilo procurou investigar quando as toalhas foram bordadas, acredita que foi por volta de 24 de dezembro de 1910 e 18 de abril de 1911. João Cândido foi preso com mais 17 companheiros e encarcerados na solitária da Ilha das Cobras, entretanto, a cela tinha sido lavada com água e cal. Os prisioneiros começaram a sufocar devido a falta de ventilação, a poeira da cal, o calor e a sede. Os gritos destes chamaram a atenção do guarda, que  não tinha as chaves. Por alguma razão que até o hoje não se sabe o comandante do Batalhão Naval, Marques da Rocha, levou consigo as chaves da sela e foi passar a noite de natal no Clube Naval. Quando este chegou à ilha no dia seguinte e abriram a cela, apenas dois presos sobreviviam, João Cândido e o soldado naval João Avelino. João Cândido permaneceu preso, em seu depoimento registrado por Edmar Moral percebe-se que estava atormentado, pois ouvia gemidos de seus companheiros mortos, isso, quando não os via em agonia. No dia 18 de abril de 1911 foi removido pra o Hospital Nacional de Alienados, na Urca, Carvalho acredita que os bordados foram feitos depois da morte dos companheiros e antes da sua remoção para o Hospital, como uma forma de autoterapia.


Os bordados:


 O adeus do Marujo - foi feito em uma espécie de toalha de rosto. Na parte de cima, do lado esquerdo, estão bordadas as letras JCF, as iniciais de João Cândido Felisberto. No centro, em cima, o título O adeus do Marujo. À direita a palavra ‘Ordem’. No centro da toalha, duas mãos bordadas se cumprimentam sobre uma âncora e dois ramos que assemelham a ser de café e tabaco. Uma das mangas é branca e tem no pulso botões e galões de almirante, a outra é de simples marinheiro.
Abaixo da âncora, o nome F. D. Martins, uma possível referência a Francisco Dias Martins, colega de João Cândido e comandante rebelde do navio Bahia, tido como um das cabeças da “Revolta da Chibata”. Embaixo, do lado esquerdo, a palavra ‘Liberdade’, do lado direito a data ‘XXII de novembro de MCMX’, o “dia D” da revolta.
 

O segundo bordado Amor - é outra toalha de rosto, o desenho está na horizontal. No alto estão duas pombas segurando, pelo bico, uma faixa que traz a escrito ‘Amôr’ (sic). Abaixo, há um coração atravessado por uma espada, de onde jorram gotas de sangue. Dos lados do coração existem flores, algumas borboletas e um beija-flor. Não há nomes e nem datas.
Os bordados mostram que o coração de João Cândido sangrava talvez pela perda do amigo Dias Martins, em O Adeus de Marujo, ou sangrava por Amor, pela perda de uma paixão oculta. Portanto, para José Murilo de Carvalho, “os que se preocupam em construir o mito de João Cândido como herói de uma classe ou de uma raça, como o líder determinado em inconteste da revolta dos marujos, as revelações dos bordados podem ser perturbadoras. Para os que preferem valorizar os aspectos humanos dos personagens históricos, para os que respeitam mais o herói quando mais humanos parecem, os bordados são uma contribuição preciosa para a biografia de João Cândido.”


CHARGES: 


Charge publicada em 1910 no jornal “O Malho”. Eram constantes as criticas da imprensa à Revolta da Chibata (1910).  Entendendo a charge: A Revolta da Chibata foi um importante movimento social ocorrido, no início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro. Começou no dia 22 de novembro de 1910. Neste período, os marinheiros brasileiros eram punidos com castigos físicos. As faltas graves eram punidas com 25 chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros.  O estopim da revolta ocorreu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros, desencadeou a revolta.  O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo. O clima ficou tenso e perigoso. O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro (então capital do Brasil).
    Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos. Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão de alguns revoltosos. A insatisfação retornou e, no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra revolta na Ilha das Cobras. Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários marinheiros foram presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as condições de vida eram desumanas, alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram enviados para a Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha.  O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram da revolta.
    Conclusão: podemos considerar a Revolta da Chibata como mais uma manifestação de insatisfação ocorrida no início da República. Embora pretendessem implantar um sistema político-econômico moderno no país, os republicanos trataram os problemas sociais como “casos de polícia”. Não havia negociação ou busca de soluções com entendimento. O governo quase sempre usou a força das armas para colocar fim às revoltas, greves e outras manifestações populares.




Influenciado pela “política” e pela “burguesia”, o marechal Hermes da Fonseca assina a anistia, deixando de lado a “pátria” e o “Zé Povo”. Charge de oposição à Revolta da Chibata publicada em 1910 no jornal “O Malho”.
 Entendendo a charge: Para se ter ideia da violência, nenhum oficial a bordo, do mais graduado, ao mais simples, ficou vivo. Foram todos mortos e colocados em câmara-ardente. Depois, os marinheiros, em radiogramas enviados à terra exigiam além da eliminação da chibata, também a anistia geral pelos crimes cometidos. Exigiam mais - pasmem! - a presença, a bordo, do próprio presidente da República, para completar as negociações, ameaçando destruir a cidade, se não fossem atendidos em seus desejos.
    A situação era tensa. Com o poder de fogo que tinham, os rebelados podiam, de fato, destruir qualquer alvo à sua volta, dentro da baía da Guanabara. Uma reação pelas forças de terra não ajudaria muito, na medida em que muitas vidas seriam perdidas, além do que estaríamos destruindo o melhor do nosso patrimônio naval. O deputado José Carlos de Carvalho, oficial da Marinha, com autorização do Congresso, vai a bordo e constata a gravidade da situação. De lá traz para a terra o último marinheiro chicoteado, que foi estopim da revolta, deixando-o em estado grave num hospital. No depoimento do próprio deputado, "...as costas desse marinheiro assemelham-se a uma tainha lanhada para ser salgada".
    Era o dia 25 de novembro de 1910. No palácio do Governo, reúnem-se o Presidente, os ministros e gente experiente da política, analisando a situação. Foi o conselheiro Rodrigues Alves que, perguntado, deu a palavra final. Se não havia outro caminho, que então se concedesse a anistia, não porque a merecessem, mas para não mergulhar o país em tragédia ainda maior. O Congresso, a contragosto, e sob protestos de muitos, votou favoravelmente. Ao cair da tarde, o Presidente assinou a anistia, coadjuvado pelo ministro da Marinha, pelo chefe de Polícia e pelo deputado José Carlos de Carvalho.
    Ainda nesse dia, a anistia foi aceita a bordo, contrariando a muitos, pois o objetivo central, que era a eliminação da chibata, não havia sido atingido. Mesmo assim, uma mensagem enviada ao oficial da Marinha e deputado José Carlos de Carvalho, transmitia a concordância, anunciava a entrega da esquadra e fazia uma ameaça: "Entraremos amanhã ao meio-dia. Agradecemos os seus bons ofícios em favor da nossa causa. Se houver qualquer falsidade, o senhor sofrerá as consequências. Estamos dispostos a vender caro as nossas vidas - Os revoltosos."
    Passaram-se poucos dias e nova rebelião estoura, pela mesma razão, mas esta de menores proporções, envolvendo pessoal de base na ilha das Cobras e mais os marinheiros de um vaso de guerra. Calcularam mal, os marinheiros, os efeitos de seu movimento, pois desta vez, não envolvendo a população da cidade, o Governo sentiu-se seguro para ordenar o bombardeio contra a ilha, morrendo quase todos, dentre os seiscentos revoltosos.
A repressão severa
    Para o Governo, esta nova revolta resultou em lucro. Alarmado com a reincidência e com o temor de que a situação saísse do controle, o Congresso não teve dúvidas em aprovar o Estado de Sítio. A trágica ironia era que os mesmos que antes defendiam a anistia, incluindo Rui Barbosa, agora clamavam pela necessidade de medidas excepcionais para o controle absoluto da situação. E, suprema das ironias, no bombardeio contra ilha das Cobras, foram utilizados os navios Minas Gerais, São Paulo e Deodoro, os mesmos que, dias antes, haviam bombardeado a cidade do Rio, pondo em xeque as instituições.
    Amparadas pela suspensão de parte das garantias constitucionais, as forças policiais foram às ruas fazendo uma operação de varredura, na qual prenderam indiscriminadamente marinheiros e civis, criminosos ou não. Muitos dos marinheiros presos estavam garantidos pela anistia concedida anteriormente, entre eles o chefe da revolta, João Cândido. Entre os civis se achavam desocupados inconsequentes e um punhado de prostitutas.
    O navio cargueiro "Satélite" partiu, então, para a Amazônia, levando, segundo relato de bordo, uma carga de "105 marinheiros, 292 vagabundos (sic), 44 mulheres e 50 praças do Exército". Seguindo instruções, a maior parte dos homens foi entregue à "Comissão Rondon" para trabalhos forçados. Os restantes, inaptos para o serviço, foram simplesmente abandonados na floresta, distantes um do outro, para não haver possibilidade de se reorganizarem. Os prisioneiros que ficaram no Rio de Janeiro foram, posteriormente, encerrados em uma cela solitária no presídio da ilha das Cobras, sendo que apenas dois sobreviveram, um deles, o próprio João Cândido que, mais tarde, fez a narrativa de toda a tragédia.
      
 
Vídeo:


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Referência Bibliográfica:


  • CARVALHO, J.M.de. Os bordados de João Cândido. In: João Cândido Embroideries. História, Ciências e Saúde. – Manguinhos, II (2), 68-84 Jul.Oct. 1996.


Exercícios Revolta da Chibata

Exercícios:

Questão 1 (ENEM 2010):
"O mestre-sala dos mares
Ha muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a historia não esqueceu
Conhecido como o almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas jorravam nas costas
"Dos negros pelas pontas das chibatas...".
BLANC, A; BOSCO, J.O mestre-sala dos mares. Disponível em: www.usinadeletras.com.br

Na historia brasileira, a chamada Revolta da Chibata, liderada por João Candido, e descrita na musica foi:
a) a rebelião de escravos contra os castigos físicos, ocorrida na Bahia, em 1848, e repetida no Rio de Janeiro.
b) a revolta, no porto de Salvador, em 1860, de marinheiros dos navios que faziam o trafico negreiro.
c) o protesto, ocorrido no exercito, em 1865, contra o castigo de chibatadas em soldados desertores na Guerra do Paraguai.
d) a rebelião dos marinheiros, negros e mulatos, em 1910, contra os castigos e as condições de trabalho na Marinha de Guerra.
e) o protesto popular contra o aumento do custo de vida no Rio de Janeiro, em 1917, dissolvido, a chibatadas pela policia.
 

Resposta: letra D

Questão 2:
Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, mandamos esta honrada mensagem para que Vossa Excelência faça aos marinheiros brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilitam. Tem Vossa Excelência 12 horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada. Os participantes da Revolta da Chibata (1910-1911) exigiam direitos de cidadania garantidos pela Constituição da época.

As limitações ao pleno exercício desses direitos, na Primeira República, foram causadas pela permanência de:
a) hierarquias sociais herdadas do escravismo
b) privilégios econômicos mantidos pelo Exército
c) dissidências políticas relacionadas ao federalismo
d) preconceitos étnicos justificados pelas teorias científicas
 

Resposta: letra A

Questão 3:
"Conhecido como o navegante negro; Tinha a dignidade de um mestre-sala;..."
O fragmento acima é da música de João Bosco e Aldir Blanc, "O mestre-sala dos mares", numa homenagem ao "Almirante Negro" que liderou a revolta dos marinheiros em 1910 contra os castigos físicos e a discriminação por parte dos oficiais.

O líder e a revolta a que se refere o texto, são, respectivamente:
a) João Cândido e a Revolta da Chibata;
b) Osvaldo Cruz e a Revolta da Vacina;
c) o beato José Maria e a Revolta do Contestado;
d) Lampião e a Revolta de Juazeiro;
e) Giuseppe Garibaldi e as greves operárias de São Paulo.
 

Resposta: Letra A

Questão 4. (Mackenzie):
 "Num momento em que a Marinha se reforma e tenta assimilar as técnicas modernas, seu elemento humano e seu mecanismo disciplinar ainda são regulados por códigos dos séculos XVIII e XIX. Os maus-tratos se somam à frequência dos castigos corporais. O trabalho é duro e excessivo."
(Edgard Carone - "A República Velha")
 

O texto acima diz respeito:
a) à Revolta da Armada do Almirante Custódio de Melo, que derrubou Deodoro da Fonseca.
b) à expedição que se dirigia à Bahia para combater Canudos.
c) à modernização da Marinha pelo Almirante Cochrane e eliminação dos maus-tratos.
d) às reclamações trabalhistas e por melhores condições de trabalho dos oficiais da Marinha.
e) à rebelião dos marinheiros chamada "Revolta da Chibata", comandada pelo "Almirante Negro", João Cândido.
 

Resposta: Letra E



Revolta da Vacina

    No inicio do século XX, a cidade do Rio de Janeiro possuía muitos cortiços que abrigavam famílias extensas. Os que lá moravam, viviam sem saneamento básico algum, possibilitando assim, a proliferação de doenças e levando a então capital brasileira a epidemias alarmantes, entre elas, febre amarela, peste bubônica e varíola. Como a medicina ainda estava caminhando em algumas áreas para se tornar a medicina que nós conhecemos hoje, e embora intenção fosse positiva, ela foi aplicada de forma violenta e autoritária. As pessoas não tinham o conhecimento do que estava se passando.
    O presidente Rodrigues Alves resolve então, aplicar um plano para acabar com as epidemias que assolavam recorrentemente a cidade do Rio de Janeiro. Tomou como solução a higienização e modernização da capital. O médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista, Oswaldo Cruz, fora designado pelo presidente para ser o chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública, com o objetivo de melhorar as condições sanitárias da cidade.
    Oswaldo Cruz acreditava que para a epidemia ser controlada, seria necessário ser injetado no paciente o soro adequado para combater a doença.  Então ele faz pressão junto ao presidente para implantar a campanha de vacinação obrigatória na sociedade.
    A campanha de vacinação obrigatória é colocada em prática em novembro de 1904. A população do Rio de Janeiro teve uma má reação à vacinação e ao uso de funcionários do governo, o modo violento com o qual homens, mulheres e crianças tinham seus braços despidos e a vacina feita, fez com que o poder da autoridade sanitária praticamente se confundisse com a policial.
    A revolta popular aumentava a cada dia, impulsionada também pela crise econômica (desemprego, inflação e alto custo de vida) e a reforma urbana que retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando vários cortiços e outros tipos de habitações mais simples. As manifestações populares e conflitos espalham-se pelas ruas da capital brasileira. Populares destroem bondes, apedrejam prédios públicos e espalham a desordem pela cidade.
    O autor Nicolau Sevcenko em seu livro “A Revolta da Vacina” mostra que, a Revolta não se limita ao furor de uma população pouco esclarecida sobre a importância da vacina para a prevenção da varíola, que ao lado de outras enfermidades estava causando um aumento significativo no número de óbitos e infectados, mas sim de que ela é o estopim de uma série de fenômenos políticos que solidificaram a hegemonia paulista no poder em detrimento de interesses sociais que abrangesse a população em geral. Além, é claro, da interferência de diferentes grupos políticos na Revolta que viram nela uma chance de se auto promoverem, mas que perderam o controle em determinado momento. No início do século XX, a burguesia ascendente cafeeira paulista precisava se inserir e mostrar ao mundo desenvolvido uma imagem de prosperidade, ordem, governo e economia estável, para continuar com os recursos externos sem os quais a instituição cafeeira não poderia se manter.
    A cidade do Rio de Janeiro, para tanto, precisava passar por uma reformulação, já que as condições estruturais do porto não mais condiziam com a sua importância de terceiro maior porto em movimento do continente americano. Somam-se a este fato as ruas estreitas e tortuosas da cidade que dificultava o trânsito de mercadoria que eram desembarcadas.
    “A revolta não visava o poder, não pretendia vencer, não podia ganhar nada. Era somente um grito, uma convulsão de dor, uma vertigem de horror e indignação” e que, na verdade, “não foi mais do que um lance particularmente pungente de um movimento muito mais extenso e que latejou em inúmeros outros momentos desse nosso dramático prelúdio republicano”. (SEVCENKO, 2010)
    Em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodrigues Alves revoga a lei da vacinação obrigatória, colocando nas ruas o exército, a marinha e a polícia para acabar com os tumultos. Controlada a situação, a campanha de vacinação obrigatória teve prosseguimento. Em pouco tempo, a epidemia de varíola foi erradicada da cidade do Rio de Janeiro. Em poucos dias a cidade voltava à sua normalidade e ordem.
 


CHARGES: 


    Charge publicada em 1904 referente à Revolta da Vacina. Ao centro, Oswaldo Cruz. Publicada na revista “O Malho”. Autor: Leônidas. Entendendo a charge: O início do período republicado da História do Brasil foi marcado por vários conflitos e revoltas populares. O Rio de Janeiro não escapou desta situação. No ano de 1904, estourou um movimento de caráter popular na cidade do Rio de Janeiro. O motivo que desencadeou a revolta foi a campanha de vacinação obrigatória, imposta pelo governo federal, contra a varíola. A situação do Rio de Janeiro, no início do século XX, era precária. A população sofria com a falta de um sistema eficiente de saneamento básico. Este fato desencadeava constantes epidemias, entre elas, febre amarela, peste bubônica e varíola. A população de baixa renda, que morava em habitações precárias, era a principal vítima deste contexto. Preocupado com esta situação, o então presidente Rodrigues Alves colocou em prática um projeto de saneamento básico e reurbanização do centro da cidade. O médico e sanitarista Oswaldo Cruz foi designado pelo presidente para ser o chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública, com o objetivo de melhorar as condições sanitárias da cidade. A campanha de vacinação obrigatória é colocada em prática em novembro de 1904. Embora seu objetivo fosse positivo, ela foi aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. Essa recusa em ser vacinado acontecia, pois grande parte das pessoas não conhecia o que era uma vacina e tinham medo de seus efeitos. A revolta popular aumentava a cada dia, impulsionada também pela crise econômica (desemprego, inflação e alto custo de vida) e a reforma urbana que retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando vários cortiços e outros tipos de habitações mais simples. As manifestações populares e conflitos espalham-se pelas ruas da capital brasileira. Populares destroem bondes, apedrejam prédios públicos e espalham a desordem pela cidade. Em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodrigues Alves revoga a lei da vacinação obrigatória, colocando nas ruas o exército, a marinha e a polícia para acabar com os tumultos. Em poucos dias a cidade voltava a calma e a ordem.

 


    Charge sobre a Revolta da Vacina (1904). Mesmo com a revogação da obrigatoriedade da vacinação, Oswaldo Cruz foi alvo de charges até mesmo de ameaças de morte por algum tempo.


Vídeo 1:

"Rattus Rattus” é um curta-metragem produzido pelo Copa Studio, o mesmo de "Tromba Trem". Com 12 minutos de duração e direção e roteiro de Zé Brandão, a animação tem como cenário o Rio de Janeiro de 1904. Na história Heitor, um imigrante de 12 anos, descobre uma maneira inusitada de ganhar dinheiro: caçando ratos.

É que para combater a peste bubônica, o diretor geral de saúde da época, Oswaldo Cruz, promove uma campanha de erradicação dos roedores pagando por cada animal capturado. "Rattus Rattus" foi vencedor do 1º Edital da FioCruz Video em 2009.


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Exercícios Revolta da Vacina

Exercícios:
 
Questão1.(CFT-SC):
O período da História do Brasil compreendido entre 1889 e 1930 é denominado por muitos historiadores de República Velha. Neste período, diversas revoltas e movimentos sociais ocorreram.
Leia atentamente as seguintes afirmativas sobre essas revoltas e movimentos sociais:

I. A Guerra do Contestado (1912-1916) ocorreu na fronteira entre Paraná e Santa Catarina.
II. Antônio Conselheiro foi o principal líder da Revolta de Canudos, a qual reuniu milhares de pessoas, entre elas, sertanejos que não possuíam terras, ex-escravos e pequenos proprietários pobres.
III. A Revolta da Vacina ocorreu no Rio de Janeiro em virtude do excesso de ações tomadas em nome da modernização e das péssimas condições de vida de grande parte da população, que teve como estopim a obrigatoriedade da vacina contra a varíola.
IV. A Revolta da Chibata denunciava o rígido código de disciplina da marinha, que punia as faltas graves com chibatadas, além da má alimentação e dos miseráveissoldos (salários) que os marinheiros recebiam.

Assinale a alternativa CORRETA:
a) Apenas a proposição IV é verdadeira.
b) Apenas as proposições I e II são verdadeiras.
c) Apenas as proposições I, II e IV são verdadeiras.
d) Apenas a proposição II é verdadeira;
e) Todas as proposições são verdadeiras.

Comentário da questão:
As reformas urbana e sanitária promovidas na cidade do Rio de Janeiro, durante a gestão do prefeito Pereira Passos, relacionaram-se, entre outros aspectos, ao projeto de modernização da capital da República brasileira, imprimindo sobre ela as marcas e símbolos do progresso. Entre as ações promovidas, estavam intervenções urbanísticas e arquitetônicas em áreas de ocupação mais antiga, como aquelas que se situavam no entorno da área portuária. A abertura da avenida Central, hoje Rio Branco, representou o carro-chefe dessas intervenções, ocasionando, como medidas correlatas, um conjunto de desapropriações e demolições de moradias populares e coletivas. Esse processo, conhecido como “bota-abaixo”, criou quadro propício para insatisfações e conflitos sociais, como, por exemplo, o episódio da Revolta da Vacina, em novembro de 1904.

Questão2. (Fuvest 2011):  
— Não entra a polícia! Não deixa entrar! Aguenta! Aguenta!
— Não entra! Não entra! repercutiu a multidão em coro.
E todo o cortiço ferveu que nem uma panela ao fogo.
— Aguenta! Aguenta!
                                   Aluísio Azevedo, O cortiço, 1890, parte X.

O fragmento acima mostra a resistência dos moradores de um cortiço à entrada de policiais no local. O romance de Aluísio Azevedo:

a) representa as transformações urbanas do Rio de Janeiro no período posterior à abolição da
escravidão e o difícil convívio entre ex-escravos, imigrantes e poder público.  
b) defende a monarquia recém-derrubada e demonstra a dificuldade da República brasileira de
manter a tranquilidade e a harmonia social após as lutas pela consolidação do novo regime.  
c) denuncia a falta de policiamento na então capital brasileira e atribui os problemas sociais
existentes ao desprezo da elite paulista cafeicultora em relação ao Rio de Janeiro.  
d) valoriza as lutas sociais que se travavam nos morros e na periferia da então capital federal e as considera um exemplo para os demais setores explorados da população brasileira.  
e) apresenta a imigração como a principal origem dos males sociais por que o país passava, pois os novos empregados assalariados tiraram o trabalho dos escravos e os marginalizaram.  

Questão3. (ENEM 2011) História:


A imagem representa as manifestações nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, na primeira década do século XX, que integraram a Revolta da Vacina. Considerando o contexto político-social da época, essa revolta revela
a) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária.
b) a consciência da população pobre sobre a necessidade de vacinação para a erradicação das epidemias.
c) a garantia do processo democrático instaurado com a República, através da defesa da liberdade de expressão da população.
d) o planejamento do governo republicano na área de saúde, que abrangia a população em geral.
e) o apoio ao governo republicano pela atitude de vacinar toda a população em vez de privilegiar a elite.

Questão 4. (FGV-2003):
 “A cidade é um monstro onde as epidemias se albergam dançando sabats magníficos, aldeia melancólica de prédios velhos e alçapados, a descascar pelos rebocos, vielas sórdidas cheirando mal.”
Nosso Século. São Paulo: Abril Cultural/Círculo do Livro, 1985, v. 1, p. 37.

Era dessa forma que o jornalista Luiz Edmundo descrevia o Rio de Janeiro no começo do século XX. De fato, em 1904 eclodia na cidade a chamada Revolta da Vacina. Essa rebelião popular foi provocada:
a) pelo profundo descontentamento com a epidemia de dengue que afligia a cidade.
b) pela decisão do governo de limitar a importação de vacinas contra a febre amarela.
c) pela recusa do governo de promover a vacinação contra a peste bubônica.
d) pelo cancelamento da vacinação contra a paralisia infantil.
e) pelo decreto que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Canudos

A pequena cidade no sertão baiano, Canudos, tornar-se-ia palco de um dos acontecimentos mais marcantes na primeira república. Esse fenômeno que envolveu os sertanejos, a figura do emblemático Antônio Conselheiro, o governo brasileiro, e a criação da obra de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, caracterizou-se por ser um confronto popular contra as forças militares brasileiras. A Revolta de Canudos que aconteceu entre 1896-1897 foi marcada por uma república dividida entre restauradores e republicanos, durante o governo do presidente Prudente de Morais.
A Revolta de Canudos destoa vários elementos fundamentais para sua compreensão. O primeiro deles gira em torno de Antônio Conselheiro, líder do movimento, monarquista e que desejava o fim da república, por entender que ela trouxe o Estado laico e criticas efusiva a Igreja. Além disso, Antonio Conselheiro efetuava suas pregações dando a elas o tom que a salvação é algo individual e afirmando o retorno de Dom Sebastião. Isso vai de encontro ao próximo elemento que predispõem as analises culturais do movimento. Alguns pesquisadores, como Maria Isaura Queiroz defendem que, em Canudos, ocorreram tanto o milenarismo (ideia de um tempo cíclico), como messianismo (ressurgimento de Cristo como guerreiro) e sebastianismo (retorno de Dom Sebastião). Outro pesquisadores entretanto, defende a ideia de quem em Canudos, aconteceu o milenarismo e não o messianismo, é o caso de Robert Levine.
Euclides da Cunha foi responsável pela escrita da obra “Os Sertões”, que por muito tempo consistiria em uma das maiores documentação sobre a revolta. Em seu livro escreveu sobre a população local. Nela trata que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral” . Na sua obra, Euclides pontua uma visão simpática para com os canudenses, critica o massacre feito pelo exercito além de perceber a mestiçagem com uma visão positivista.
A Revolta de Canudos termina em 1897 depois de resistir a várias expedições militares (cerca de 4 no total). Com um contingente militar aproximadamente de doze mil pessoas. O exercito dizimou o arraial e capturou o corpo de Antonio Conselheiro exumou e o decapitou. Sua cabeça foi levada a Salvador para estudos. 

Localização da cidade de Canudos.




Antônio Conselheiro morto, em sua única foto conhecida, tirada por Flávio de Barros no dia 6 de outubro de 1897.
 
 
Canudos em 1897. Fotografia de Flávio de Barros, fotógrafo do Exército.


     Charge de Angelo Agostini, onde mostra Antônio Conselheiro rechaçando a República. Publicada na “Revista Ilustrada” de 1896. Entendendo a charge: Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido popularmente como Antônio Conselheiro, foi um beato, líder religioso e social brasileiro. Nasceu em Quixeramobim (Ceará) em 13 de março de 1830 e faleceu em Canudos (Bahia) em 22 de setembro de 1897. Considerado um fora da lei pelas autoridades nordestina, Antônio Conselheiro peregrinava pelo sertão do Nordeste (marcado pela seca, fome miséria), levando mensagens religiosas e conselhos sociais para as populações carentes. Conseguiu uma grande quantidade de seguidores, sendo que muitos o consideravam santo. Há relatos de seguidores de Conselheiro que afirmaram que o beato tinha a capacidade de fazer milagres e que o mesmo fazia previsões sobre o fim do mundo. Em 1893, revolveu fundar nas margens do rio Vaza Barris, no município baiano de Canudos, uma comunidade. Pessoas carentes foram morar no Arraial de Canudos, pois lá tinham trabalho e acesso a terra, sem serem exploradas pelos fazendeiros.
    Antônio Conselheiro liderou e organizou o Arraial de Canudos de forma que o local cresceu e começou a causar preocupações nas autoridades políticas e nos fazendeiros da região. Foi chamado de monarquista e inimigo da República. O governo federal, com auxílio de tropas locais, organizou uma grande ofensiva militar contra o arraial liderado por Conselheiro. O conflito armado, conhecido como Guerra de Canudos, ocorreu entre 1896 e 1897. Antônio Conselheiro foi morto durante as batalhas em 22 de setembro de 1897, provavelmente, por ferimentos causados por uma granada.


Documentário:

Assista ao documentário "Paixão e Guerra no Sertão de Canudos" de 1993, dirigido por Antônio Olavo. O vídeo reúne raros depoimentos de parentes de Conselheiro, contemporâneos da guerra, filhos de lideres guerrilheiros, historiadores, religiosos e militares.



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Referências bibliográficas:


  • CALASANS, José. No Tempo de Antônio Conselheiro. Salvador, Livraria Progresso Editora, 1959.


  • QUEIROZ, M. I. P. de Q. O Messianismo no Brasil e no Mundo. São Paulo, Dominus/Edusp, 1965.


  • QUEIROZ, M. I. P. . Canudos: la Guerre de la Fin du Monde. Magazine Littéraire, Paris, n.187, 1982.